domingo, 29 de janeiro de 2012

Chico Science & Nação Zumbi e a noite mais louca da minha vida.

Saudações aos que leem esse post e aos que participaram dessa história.
O ano era 1996 e eu era estudante de Física na UEPB, garçom nos finais no lendário EMBARCANÇAO (prometo um post sobre essa bar incrível) e louco pelos sons que emanavam dos mangues pernambucanos. Claro que estou falando de Chico Science &  Nação Zumbi, Mundo Livre S/A e todos que naquele momento colocavam sua regionalidade e identidade nordestina acima de qualquer coisa e ainda fundindo tudo isso ao velho e bom rock and roll.

Poster original de 96 com autógrafos de 2005

No dia 30 de novembro desse ano, para minha alegria estava agendado o show do Chico Science & Nação Zumbi, com mais 3 bandas: Eddie, Cascabulho e Dasbanda da Parahyba, que era o representante campinense da cena manguebit.

Os shows iam acontecer na quadra do clube campinense, que fica no Bairro da Prata. Um fator não foi pensado, no dia seguinte ao show, seria o primeiro dia de prova da Ufpb, fato que contribuiu para o pouco publico presente, mas só tinha em sua maioria a galera que frequentava o EMBARCANÇÃO e a galera universitária predominante.
Minha situação era a seguinte:
·    Grana para o ingresso – não tinha.
·    Grana para lanchar – não tinha
·    Grana para beber – não tinha
·     Grana para transporte – nenhuma, pois tinha os passes estudantis que pagavam o “bumba” ida e volta
·    Cara de pau – a maior possível
·    Amigos – muitos. Afinal, quem tem amigos tem tudo
.
As apresentações começariam às 21 horas. Eu, na condição de fã de Chico Science e de “pra frente”, decidi que pegaria um autografo dele e , se possível trocaria ideias, já que ele falava em Caos, música quântica e elementos da física que muito me interessava. Um brother deu o toque que a banda ía passar som por volta das 18 horas, já que eles vinham de uma apresentação em fortaleza. As 17 e 30 saio de casa. Calça Jeans, um velho tênis sujo e confortável, camisa simples, um blusão de malha fina amarrado na cintura e 4 passes de ônibus e 2 reais que consegui do meu pai.....eita vida difícil....ahahahahahahahaahaha me perdoem, mas não consigo segurar a risada....

Cheguei no clube e fui logo ver por onde os “artistas” estavam entrando. Como eu já disse acima que não tinha grana nem pro ingresso, resolvi dar uma de esperto. Sabendo que muitas bandas estavam transitando naquele momento por uma entrada exclusiva, aproveitei da situação me dirigi a tal entrada e com a cara mais cínica deste mundo disse : 
‘SOU DA  BANDA' kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Entrei.

Nem olhei para trás. Fui direto ao palco que para minha sorte estavam lá a Chico e a  Nação passando o som. A música era Maracatu atômico. Me posicionei ao lado e pude observa-los. A primeira coisa que notei era que eles eram baixinhos, principalmente o Dengue, baixista, e o Chico. A segunda observação era que eles eram caras muiiiiittooooo simples, sem frescura ou estrelismos.
Passado alguns minutos eles terminaram a passagem de som e eis que Chico vem em minha direção, sorrindo, com cara de moleque satisfeito.  Eu disse : ‘ Chico, faço física! Quero lhe agradecer pela musica quântica e por me fazer abrir os ouvidos para nossa musica nordestina’. Como resposta ouvi: ‘ É isso irmão, caos e desordem na música para uma nova onde músical’. Deu-me um perto de mão e um abraço e foi para hotel descançar antes do show.

Por volta das nove começaram as apresentações.
Primeiro foi a campinense Dasbanda da Parahyba. Misturando sua pegada rock a là Led Zeppelin com letras de Biliu de Campina, uma versão matadora de Carcará entre outras pérolas. Depois foi a vez do Eddie, que naquela época misturava punk-hadrcore com elementos regionais de Pernambuco. E o Cascabulho com seu maracatu rural pesado e pulsante.

Pausa para brodagem.
É bom lembrar que estou no clube desde de cedo e a fome e a sede já estavam começando a ficar mais forte. Como eu disse, quem tem amigos tem tudo. Foi quando numa dessas horas de desespero eis que brota ao meu lado um amigo de escola. Amigo esse que ajudei a passar de ano, dando cola em varias matérias ( senhor, que meus alunos não leiam isso ). O brother – não vou citar o nome dele por razões óbvias – em questão era um traficante num bairro famoso em Campina.
“ Poooorrrraaaaaaa Manuuuuu, você aqui véi. Tá precisando de alguma coisa? Quer 'fumu'? 'Farinha'? Que o quê meu véi? Cara, se não fosse tu eu não tinha saído da escola. Te devo muito” ... E eu: “ bom, to sem grana, me arruma uma cerva que já ta massa.”  “ Vamo ali.” Me puxou pela mão até o bar e pediu 5 fichas de cervejas. Me deu 4 fichas. Depois me puxou de novo pela mão até uma barraca de cachorro quente. “ Toma Manú,, come ai.” Comi.
Antes de se apartar de mim,disse: “Manu, vou circular por causa dos  ‘negocios’. Toma, pega ai (eram cinco reais). Precisando de qualquer coisa é só me achar”. Putz, fiquei de cara, nunca pensei que uma “colaboração escolar entre colegas” pudesse render tanto. Ahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaa

A essas alturas eu já tava que nem pinto no lixo. Feliz por estar ali. Feliz por ter pagado Química Inorgânica. Feliz por ver Chico Science e feiz por  estar cercado por  bons amigos e curtindo um show com bandas boas, lembre-se que eu estava em Campina Grande, capital do forró, coisa rara de acontecer.

Já eram uma duas e meia da manhã quando do palco escuto : EU VIM COM A NAÇÃO ZUMBI, AO SEU OUVIDO FALAR...

Era a senha entrar no universo multisonoro de CHICO SCIENCE & NAÇÃO ZUMBI. Aquele pequeno homem, tornou-se um gigante no palco. Sua presença era mágica.Com ele foi-se embora tristeza, cansaço de qualquer tipo, mesquinharias, pré-conceitos.
Tudo era musica, poesia, luz, alegria. Me confraternizei com pessoas que nunca tinha visto. Pulei, dei cabeçadas, moshes na parede (ahahahahahaahahhahahaha) Ouvindo musicas do porte de Da lama ao caos, com trechos de refuse/resist do sepultura, Sangue de Bairro, Risoflora, Maracatu Atômico, Manguetown.

No momento mais psicodélico do show, ao som da instrumental Coco Dub (afrocoberdelia) Chico aparece no palco vestido com as roupas de caboclo de lança. Coloridissímo, elegante, parecendo um guerreiro do bem, reluzindo o encanto da sua cultura através de suas lantejoulas.
Depois de uma hora e meia o sonho termina, mas a noite não. Ainda consegui entrar no backstage e ganhar uma baqueta do Bola 8, uma palheta do Lúcio e mais um abraço do Chico. Infelizmente não pude registrar aquele momento em foto, mas minha querida amiga Popó tirou essa foto, que vocês veem abaixo, com Chico, pouco antes do mesmo se retirar para seguir viagem pra sua Recife amada.


Já eram umas 4 e meia da manhã e ainda peguei uma carona até um bar, se não me engano O Cercado, aonde encontrei com alguns camaradas para beber e dar boas risadas.

O sol começa a raiar e para minha sorte Lobão, apelido de Fábio Adriano, irmão de lutas no movimento estudantil, apareceu com seu recém comprado fusca e me ofertou uma carona até em casa. Obvius que aceitei.

Cheguei em casa ainda em êxtase, deitei e demorei um pouco a dormir, pois meus ouvidos apitavam devido a massa sonora.
Dormi.

Acordei e já passava das 13 horas. Ao abrir os olhos disse: ”AI”.  Tudo doía. Ossos, pescoço, cabeça, ouvidos e até o pensamento tava doendo. Mas, apesar de tantas dores, eu estava satisfeitíssimo e realizado como poucas vezes em minha vida.

Quero encerrar esse post agradecendo a GUESTHO, FÁBIO LOBÃO, APOLÔNIA ( POPÓ) , EDJANE, EDMAR, ORLANDO E SILVO ( SAÍIIII BABAAAA) e as bandas que fazem parte desta lembrança.

“ SOU, SOU, SOU,SOU, SOU MAAAAAANNNNGGUUUUEEEEBBBOOYYYYY..."


P.S  Em 2005 a Nação Zumbi fez um Show na cidade de Delmiro Gouveia. Eles ficaram hospedados aqui em  Paulo Afonso e resolvi dar uma chegadinha no hotel que eles estavam para pegar autógrafos no poster do show de 1996, que guardei como lembrança. Toca Ogam me recebeu,deu acesso aos demais musicos da banda que se emocionaram ao  ver o poster  e lembrarem do show.Toca ainda saiu comigo e minha namorada/esposa para tomar umas biritas pela city. 
Valeu  TOCA OGAM. VALEU NAÇÃO ZUMBI.

10 comentários:

  1. Essa história cê num me contou não hein Boi! Depois vai me apresentar a galera da Nação... :)

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  2. O que seria das músicas sem os momentos e histórias? ;D

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  3. Cara, eu fui para este show e guardo o poster e o ingresso até hoje !!!
    A sensação que tive do show foi muito parecida com a sua: Foi um momento único que guardarei na minha memória e contarei aos meus netos...
    Parabéns pela fiel descrição do ambiente, realmente o Embarcanção em peso estava lá...
    Abraço

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    1. Obrigado pelo comentário Sérgio.
      Que bom que teremos essa lembrança pra compartilhar em nossa velhice.
      Abraço e sorte sempre

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  4. Prezados, podemos reproduzir esse texto no Retalhos Históricos de Campina Grande? www.cgretalhos.blogspot.com ?

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    1. Pode sim.
      Só peço para que a reprodução seja na integra e com seus devidos créditos.

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    2. Que história em Manu!!! Esta noite também foi inesquecível para mim. Sou Maerson, batera do Dasbandas, estava fuçando na nete a procura de coisas do Dasbandas e encontrei teu blog, muito legal. Tenho mais algum material desta noite, se quiser pode me contactar que te passo. Grande abraço. maersonmeira@hotmail.com

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  5. Eitcha Manu,
    Essa noite é pra guardar pro resto de nossas vidas e aguardo a matéria sobre o EMBARCANÇÃO.
    Com certeza noites incríveis passamos juntos naquele que foi um dos melhores bares das noites campinenses.

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